Nesta seção também quero trazer indicações de videos, textos, livros, etc, com o intuito de auxiliar em seu estudo, fazendo um review do material apresentado e mais: produzir e aplicar o que foi ensinado. Assim espero incentivar a todos e mostrar uma maneira que podemos utilizar em nossos estudos e aprimorar nossas habilidades. Desta vez o assunto é: Cores!

Marco Bucci é um artista com vasta experiência: Disney, LucasArts e Mattel são algumas empresas as quais ele já trabalhou como um Lead Color Artist. Ou seja, o cara que direciona as paletas de cores em filmes, livros e animações. Além dessa experiência, ele também atua no meio acadêmico, seja com aulas de Color and Light no Cgma ou em seu canal no Youtube.
O que gosto e fica bem visível em seu trabalho é a riqueza de sua paleta. Parece que ele trabalha com todas as cores possíveis na imagem, sem uma brigar com a outra.

E é justamente o que ele mostra neste vídeo intitulado Colour Harmony (Harmonia de Cores). Este video faz parte de uma série dele chamada ‘10 minutes to Better Painting’ (10 minutos para Pintar Melhor) e pretendo abordá-los em outros posts.
Vamos aprender um pouco com ele e ver como conseguimos aplicar em nossos estudos e trabalhos:

No video acima, logo de cara ele cita dois artistas. Um deles é Morgan Weisting que diz “Eu não sei o que estou misturando. As cores na minha paleta são como piano…e eu apenas aperto as teclas.” O outro, Joseph Zbukvic diz “Eu não olho as cores em minha paleta. Tem um lado quente, um lado frio, e alguns pequenos detalhes no meio”.

Como Marco mesmo diz, isso não ajuda muito ou pode parecer frases de pessoas que não sabe o que estão falando. Porém, ao ver os trabalhos desses artistas, não é o que acontece:

Morgan Weisting
Joseph Zbukvic

Harmonia de Cores sempre parece algo muito distante ou algo que não conseguiremos aprender. Realmente parece ter algo de verdadeiro e indefinível no que eles dizem, mas vamos analisar. Já sabemos o que significa Cores, certo? (amarelo, azul, verde… ou seja, a matiz). Vamos ver agora um dos significados da palavra Harmonia:

“HARMONIA – A COMBINAÇÃO SIMULTÂNEA DE NOTAS MUSICAIS SOMADAS PARA PRODUZIR UM EFEITO AGRADÁVEL.”

Segundo Marco, vamos trocar algumas palavras da frase e ver como fica:

“HARMONIA – A COMBINAÇÃO SIMULTÂNEA DE NOTAS MUSICAIS CORES EXIBIDAS PARA PRODUZIR UM EFEITO AGRADÁVEL.”

Agora já sabemos o que Harmonia de Cores significa. Como dito, sabemos como as cores se chamam: Vermelho, Azul, Verde, Amarelo, etc, porém o fato de as conhecermos apenas pelo nome é bastante limitante.
Ele mostra isso pintando um quadrado cinza e aplicando sobre partes de uma imagem. Nas áreas da imagem onde temos azul, o cinza parece quente. Nas áreas onde temos amarelos e laranjas, o cinza parece frio. Como uma variação tão pequena de valores produz um efeito tão grande na pintura?

Isso significa que os cinzas comunicam-se entre eles. Se eu usar diferentes cores saturadas numa imagem, vai parecer como uma multidão onde todos estão falando e gritando ao mesmo tempo. Se usarmos as mesmas cores mas com uma saturação mais baixa (cinza) iremos produzir um efeito mais harmônico entre elas.

Porque isso acontece? Como explicar como isso acontece?
Marco traz como exemplo uma imagem que vale mais que mil palavras: a Millenium Falcon de StarWars (com um disco cromático em cima, claro). Como capitão da nave, ele coloca Han Solo (no centro do disco, como todo cinza) com a missão de comunicar os planos da Aliança Rebelde para as cores. Lembrando do exemplo que as cores saturadas brigam por atenção numa conversar, ele traz as cores mais perto de si (cinza) tornando mais fácil a conversa já que o cinza é o que elas tem em comum.

Mas não precisa ser apenas assim. Vendo no exemplo seguinte, ao pegarmos uma pintura dominadas por cinzas e colocarmos cores mais saturadas, vemos que essas cores começam a tomar força. Nos exemplos dos artistas citados no começo vemos que cores opostas como laranjas e azuis, quando estão próximas do cinza conseguem conversar; e como cores mais saturadas, ganham força quando estão cercadas de cinzas. Em outro exemplo, vemos como os cinzas conversam bem com os tons de laranja.

Também conseguimos entender o que acontece na imagem com as montanhas. Na área em azul (frio) o cinza por estar mais perto do centro começa a provocar uma intenção mais quente. E nas áreas em laranja/amarelo (quente) o mesmo cinza começa a puxar um pouco do lado oposto (novamente, por esta mais ao centro).

Podemos concluir que uma imagem pode ser feita com diversas variações de graus de cinza, e como numa conversa, podemos começar a ter algumas vozes falando mais alto, no caso as cores mais saturadas.

Na demonstração baseada em uma pintura do próprio Marco Bucci, ele faz isso. Cria uma base de cinzas (lembre-se: graus diferentes de cinza…. há variação de cores neles, ok?) e conforme vai construindo a pintura ele começa a perceber onde quer falar mais alto com as cores. No caso da imagem, o ponto mais alto é o azul do céu (que contamina outras áreas, incluindo a cabeça do monstrinho) e os verdes (um pouco dos amarelos também). O restante (roxos, laranjas, etc) são variações menos saturadas dessas cores.

Imagem original de Marco Bucci que ele usa como exemplo no vídeo, ao reproduzi-la novamente

É interessante o que ele cita de não mostrar o color picker pra vermos as cores selecionadas porque essa é outra regra do mundo das cores: a cor está sempre relacionada com o seu entorno. A cor que você vê no quadradinho do Photoshop não vai se comportar da mesma maneira quando está misturada com outras cores. Por isso, mais importante do que ver a cor que ele está selecionando é entender o conceito do que ele está fazendo.

Outra citação é que ele prefere trabalhar direto com cores do que aquele método de trabalhar os valores tonais antes (preto e branco) e depois adicionar cores. Segundo ele, trabalhar direto com cores permite que você construa e descubra sua harmonia de cores conforme vai construindo suas formas, valores e bordas. Deixar as cores atuarem assim, como numa conversação real, é uma grande maneira de ver todos os nuances e chegar no melhor resultado possível. Mas lembre-se que cada artista desenvolve seu método.

Como dá pra ver, ele adora cores. Mas os principais Fundamentos da pintura para ele são:

  1. Desenho: você somente pode pintar tão bem quanto desenha;
  2. Valores: luz e sombra (aqui seria mais como item 1.5);
  3. Edges: bordas
    E as Cores? Bom, as cores atuam (segundo ele) abrangendo todos os outros itens. Cor é a parte subjetiva de uma pintura. Ela funciona melhor quando está enriquecendo uma imagem que já funciona bem (valores, composição, etc).

Gostaria de adicionar também que o processo de pintura dele não é tão simples quanto parece no sentido de entendermos o porque de cada pincelada. A experiência que o artista traz da sua trajetória de desenvolvimento artístico faz com que suas escolhas sejam tão acertadas, num misto de conhecimento e intuição. Por isso a prática é essencial.

Se quiser ver como estudos rápidos auxiliam o aprendizado na pintura, veja esta matéria que fiz recentemente chamada Estudos Rápidos de Pintura – Prática Direcionada.

Ao final, ele espera que o vídeo o ajude a explorar sua jornada acerca do círculo cromático. E ainda brinca sobre uma teoria maluca dizendo que o “círculo cromático não é redondo e sim plano”. E quando vai mostrar o quanto isso está errado, dentro do photoshop o color picker do Photoshop é ….. plano?!?…..

Bom, espero que tenham curtido esse estudo de caso. Segue aqui a imagem que preparei usando a teoria dele, mas aplicada em um cenário. Lembrem-se que, como ele mesmo cita em parte do vídeo: isso aqui não é pra ser uma fórmula, e sim um processo que pode ajudá-los.

Ricardo Riamonde

Nos vemos por aí.

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