Esse texto foi baseado no livro Mastering Composition de Ian Roberts, que aborda composição de forma bem aprofundada. Retirei esse trecho onde ele sugere o estudo diário de composição. Quando a gente pensa em ‘diário’ já vem na cabeça um “putz, todo dia??”. Mas vocês vão ver ao longo da matéria que esse estudo é algo fácil de fazer, no sentido de que não tem uma técnica complexa por tráz. É observar objetos ao seu redor, um lápis e um scketchbook (ou caderno, o que for mais acessível pra você) e desenhar! Acrescentei minha experiência também durante o texto. Lápis e sketchbook na mão, vamos estudar composição!
Mudar a linha de pensamento de ‘pensar no tema’ para ‘pensar em formas’eventualmente irá fazer sentido. A partir deste ponto, você perceberá que está construindo e criando suas pinturas de forma diferente. É um daqueles momentos que fazemos “ah, saquei!”
Nenhum exercício trará um avanço tão claro quanto o exercício de uma composição por dia. Compare à praticar escalas em um piano. Praticamente qualquer professor de piano irá dizer que existe a prática atenta das escalas e a prática baseada no hábito, que é definido como repetir mecanicamente sem um entendimento profundo (e sem atenção). Praticando atentamente este exercício diariamente irá abrir um caminho quase ‘místico’ para aprimorar suas habilidades artísticas.
A habilidade de criar composições boas e consistentes pode ser dominada magistralmente fazendo este exercício. Aqui entra os famosos thumbnails (esboços feitos em escala bem reduzida, para dar uma sensação geral do que a composição ou imagem vai ser). A prática constante de thumbnails ajuda a aprimorar o senso de design numa composição. Porém, nossa ansiedade nos leva a pensar na parte final de uma pintura, deixando esses conceitos básicos iniciais (e muito importantes) passarem.
O conceito básico é: desenhar todo dia uma pequena composição à lápis. Claro, podemos ir pro digital e pintar diretamente também. Como o material em que estou baseando este artigo é voltado para o tradicional, o lápis aparece em primeiro lugar. Porém, novamente, pensemos nos fundamentos, ok? Nada substitui o aprendizado que o lápis e o papel nos trazem, apesar de fugirmos disso. De qualquer forma, ficam ambas as sugestões: trabalhar composições à lápis em seu sketchbook e esboçar composições também no ambiente digital.
Você não deve se preocupar e ficar procurando elementos muito elaborados. Escolha objetos que esteja ao seu redor. Os exemplos aqui foram feitos com objetos caseiros. O ponto é: faça! Dia após dia. Em cada composição, dê ênfase na qualidade das formas, no arranjo abstrato das massas de valor e nas bordas entre elas. Pense em termos de formas do que apenas linhas de objetos. Comprometa todo o campo visual com as massas.
Desenho direcionado ao objeto
O desenho à esquerda não é uma composição por dia; é um desenho de um objeto. Não importa quanto tempo e trabalho foi aplicado neste desenho, ele não remete de forma interessante ao campo visual nem nas relações abstratas de massas. Uma composição mais bem sucedida, como a da direita, inclui esses elementos. Percebe a variedade de valores.
A coisa mais importante é estar atento mentalmente ao que se está fazendo. Se você fizer uma composição por dia apenas porque você “tem que fazer”, você achará que é apenas uma tarefa diária chata. Mas, se você desacelerar, você perceberá que é uma maneira muito efetiva de dominar o enquadramento, valores, massas abstratas, definição de bordas e assim por diante.
Comparado a pintar, desenhar é mais como uma comunhão, quieta e privada. Pintura se assemelha mais a algo grande e público, e isso acaba criando ansiedade e medo. Com o desenho, você pode estar sozinho e explorar. Além disso, o custo de materiais de desenho é muito mais barato que materiais de pintura, o que permite e te deixa livre para experimentar. Na pintura, quando trabalhamos com materiais mais caros, temos a tendência de nos contermos mentalmente. Com uma composição por dia, você está trabalhando com um lápis e um sketchbook. Você pode tentar coisas – de forma privada.
Você pode achar esse exercício devagar num primeiro momento. Conforme você fica mais fluente com suas habilidades de desenho e permanece atento a ideia de compor com formas e valores, você verá que ficará mais fácil e rápido criar expressão a uma ideia. A curva de aprendizado conforme você fica proficiente em várias habilidades envolvidas pode parecer um pouco exagerada e desencorajante algumas vezes. Mas nada permitirá que você domine a composição – e depois a pintura – mais rápido que este exercício. Pratique diariamente e suas habilidades artísticas irão aumentar exponencialmente a médio prazo.
Mantenha os limites flexíveis
Quando fizer os thumbnails ou a composição por dia, trabalhe no meio da página, para que você tem espaço para ajustes e possa expandir para qualquer direção. Não pensa nas bordas do papel como o extremo do seu campo visual. Ao fazer isso, você está fazendo com que o fabricante do papel dite as regras das quatro principais linhas da sua composição, o que limita você desde o começo. Você corre o risco de trabalhar muito grande e vai gastar a maior parte desse tempo preenchendo valores em áreas grandes. Para este exercício, menor é melhor.
THUMBNAILS
Bom, você já ouviu sobre eles. E muitas vezes já ouviu que deve fazer thumbnails antes de uma pintura. Muitos alunos rabiscam algumas poucas linhas numa página, chamam de thumbnail e começam a pintar (confesso, eu faço isso também….)
Sem um thumbnail, é como se você estivesse voando cego, e geralmente isso ficará evidente na sua pintura. Você pode achar que o thumbnail esteja te segurando. Você quer pintar. Ironicamente, é a atenção dada ao thumbnail que salva tempo e energia criativa. Você não quer entrar numa pintura e descobrir que simplesmente não está funcionando; isso desencoraja e frustra. Se você mergulha direto na pintura você acaba se apoiando demais na sorte – e pra ser consistente, a sorte é um péssimo parceiro.
Fazer um thumbnail requer pesquisa e atenção. É o ponto onde você pode realmente explorar suas possibilidades criativas. Quando você explora uma ideia, você pode ter outra ideia e percebe que pode gerar uma pintura muito mais interessante. Mesmo que você mantenha a mesma ideia, faça o thumbnail de forma atenta e você irá descobrir os pontos fortes e fracos da sua composição. Reforce o que funciona, tire a ênfase do que não funciona.
Se você acha que fazer thumbnails é frustrante, eu recomendo dedicar alguns meses desenhando – exclusivamente. Faça os exercícios desta seção com uma composição por dia. Quando você retornar para sua pintura, você estará apto a ver como estruturar suas pinturas de forma mais eficiente. Você verá massas de valores interagindo no seu campo visual. Você irá entender como mover o olho por onde quer. Então você estará apto a traduzir suas novas habilidades para a pintura. No longo prazo, nenhuma outra habilidade servirá tão bem.
DESENHE PACIENTEMENTE
Realmente perceba e procure entender como as massas abstratas de valores você está considerando interagir com as fronteiras da sua composição.
COLOQUE MASSAS
Um thumbnail se torna uma ferramenta ágil e útil para explorar quando você coloca as massas de valores
Nota do autor, Ian Roberts:
“Meu sistema de Sketchbook –
Quando eu fazia escola de artes, eu costumava usar aqueles sketchbooks pretos encadernados para todos os meus desenhos e notas. Mas, quando mais tarde eu vou a ver esses desenhos antigos, todos os sketches à lápis pareciam como tempestades de neve cinza, com algumas marcas vagamente discerníveis por debaixo dessa névoa cinza. Como eu gosto de trabalhar com lápis, eu decidi tentar algo diferente. Agora eu corto largas folhas de papel para desenho (22cmX28cm) e carrego elas numa pasta. Quando eu chego em casa, eu pego os desenhos do dia, perfuro eles e guardo num fichário. Eu posso pegá-los e usá-los como referência se preciso deles; caso contrário, eles descansam lá, tranquilos, cada fichário arquivado por data.”
Uma dica de outro livro bem legal chamado ‘60 Minutes to Better Painting’ de Craig Nelson, são estas “Pistas de Composição” (fui legal e traduzi para vocês o/):
“Entendendo e dominando a composição é fácil quando você simplifica os elementos. Use os diagramas abaixo para ajudá-lo a criar composições interessantes.”
É legal ver como cada artista aborda assuntos de formas diferentes. Alguns mais técnicos e densos e outros de forma mais leve, quase gerando pequenas fórmulas. No final, devemos absorver todos esse conhecimento e aplicar, vendo na prática o que nos serve e o que não.
Bons estudos!!
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