Nesta seção do blog, minha a intenção é simples: trazer e apresentar aos leitores grandes artistas , do passado ou do presente. Apesar do termo ‘Grandes Mestres’ estar vinculado aos Mestres como Caravaggio, Da Vinci, Rafael, Bernini, entre muitos outros, aqui tomo a liberdade de colocar artistas em geral que influenciaram ou influenciam gerações de artistas, e até mesmo artistas que se tornam referência em sua área de atuação, principalmente dentro do entretenimento.
Inaugurando esta seção, não poderia deixar de ser ele (que em muitas aulas minhas foi motivo de estudo), o grande Mestre Frank Frazetta. Vamos ver um pouco da história dele e suas obras. Fiz um apanhado de textos pesquisados em fontes diversas e compilados aqui pra vocês.
Frank Frazetta foi um dos ilustradores mais prolíficos (que mais produziu) e reconhecido do século XX. Isso se deve pela variedade de mídias onde sua arte apareceu (quadrinhos, cartazes, capas de álbuns, livros, etc) e também pelo seu estilo muito reconhecível.
Começou bem cedo, aos 8 anos, estudando artes na Brooklyn Academy of Fine Arts que, segundo descrição de Arnie Ferner no livro Rough Works “tinha um nome pomposo demais para uma escola com três salas”. Lá teve um professor de fine arts chamado Falanga que tinha um certo renome na Itália. Frazetta seria encaminhado por ele para estudar na Europa, mas com a morte de seu professor isso não se concluiu. E a escola fechou um ano após esse ocorrido.
Iniciou sua carreira nos quadrinhos aos 16 anos como um aprendiz de John Giunta e o mesmo o encorajou a produzir e ilustrar. De aventura à horror passando por histórias reais à animais engraçados, Frazetta fez de tudo por quase uma década. Um dos seus mais antigos e famosos trabalhos foram ilustrações para histórias de horror e suspense da EC Comics.
Na década de 60 após ter saído desta área (em desacordo a cortes salariais) começou a ilustrar capas de livro (lá fora se usa o termo ‘paperback book’ designado para tiragens mais baratas, com um papel de qualidade inferior mas com uma capa mais grossa em alguns casos) para pagar as contas. Viu só? Não somos somente nós, meros ilustradores mortais, que fazemos tarefas para pagar as contas. Vale ressaltar aqui que, antes de ter produzido essas capas, Frazetta percorreu um certo caminho tortuoso para conseguir trabalho após esse desacordo aos cortes salariais, passando alguns meses sem trabalho, depois produzindo trabalhos menores até finalmente começar sua carreira como pintor.
Apesar de não ser tão lucrativo na época, essas ilustrações são muito buscadas por colecionadores, principalmente em títulos como Tarzan e John Carter of Mars.
Na mesma década, se juntou a outros cartunistas e trabalhou em títulos como “Creepy”, “Eerie” e ajudou a projetar “Vampirella”.
Suas pinturas o re-introduziram a uma nova geração, criando uma base de fãs. E suas pinturas, principalmente as capas de Conan, o tornaram um dos artistas mais populares de fantasia do mundo.
Isso chamou a atenção da indústria de filmes e ele logo começou a produzir pôsteres para filmes. Também foi co-produtor e designer de produção para um filme animado chamado ‘Fire and Ice’ (1983, Columbia Pictures), o qual foi inspirado em suas pinturas.
O trabalho de Frazetta provavelmente foi o mais popular da década de 70, onde poderia ser visto em quase todos os lugares. Seus desenhos eram e são instantaneamente reconhecíveis – os homens são incrivelmente musculosos, as mulheres sobrenaturalmente bonitas e os monstros são indescritivelmente hediondos. Muitas de suas ilustrações foram coletadas em volumes bonitos de de grandes dimensões, ou ainda podem ser encontrados decorando paredes de adolescentes.
A primeira galeria com seu nome foi aberta na parte superior da empresa de seus filhos em 1985, mas o interesse e a demanda do público acabou exigindo a construção de um lugar somente para isso. O Frazetta Museum foi aberto ao público em 2000.
Nos anos seguintes Frazetta enfrentou diversos problemas de saúde, sendo que uma série de avc’s o debilitou bastante e prejudicou seu lado direito. Talvez para provar a si mesmo que sua habilidade era uma questão de intelecto e vontade, treinou a desenhar e pintar com sua mão esquerda (!!!) Criou trabalhos tão vibrantes como a arte que produzia antes.
Retirado da área comercial, Frazetta produzia sketches e pinturas para seu próprio prazer e no seu próprio ritmo.
Vale trazer à pauta, que relatos dizem que Frazetta produzia seus sketches, aquarelas ou pinturas à óleo de forma muito rápida, assim como vinha a inspiração, sem a necessidade de referências. Ele não mantinha um acervo extenso de referências, diferente de outros artistas. Sua habilidade somada a uma memória excelente raramente necessitava de referência. Ele dizia que perdia a espontaneidade do desenho ou da pintura. Em algumas ocasiões ele usava alguma revista com modelos para ajudar numa composição, pedia pra sua esposa posar para ajudar numa determinada luz, olhava no espelho pra uma determinada expressão ou contratava modelos para aulas de modelo vivo.
Segundo ele mesmo: “É muito difícil copiar! (no caso aqui ele usa a palavra ‘swipe’ que seria como roubar ou, na minha interpretação, copiar de uma foto). Requer muito trabalho achar a foto perfeita”.
AVISO IMPORTANTE: Não podemos deixar isso passar em branco. Sempre falo em minhas aulas a importância da referência. Como posso desenhar um leão se nunca parei ao menos pra observar um? Essa colocação de que o Frazetta usava pouca referência precisa ser analisada do ponto de vista de como ele construiu suas bases. Lembre-se que estamos falando de uma criança de 8 anos que, além de já ter uma propensão artística, estudou arte até os 16 anos quando já começa a atuar como um assistente de arte. Percebem? Ele consumiu muuita informação visual (aliada talvez a uma ótima memória) pra quando se tornou um artista profissional, essa informação fosse delineada em seu trabalho. Pensem em quanto ele desenhou, pintou, ilustrou para poder com o tempo se desprender da referência. Então referência é sim muito importante e com o tempo você provavelmente vai se desprendendo de algumas e adquirindo outras.
Tive a oportunidade de ter um livro dele da série Icon, que é fantástico, pontuando diversos estágios da carreira de Frazetta. Anos atrás dei de presente à um amigo, mas espero ainda conseguir outro novamente.
Outro livro que gosto bastante e citei ali em cima é o chamado Rough Works, onde temos exclusivamente sketches e esboços de diversas ideias deste Mestre, sendo que muitas viraram pinturas.
Neste livro tem uma descrição bem interessante de Todd Schorr (pintor e autor de Dreamland) diz um pouco mais sobre Frazetta e a época em que ele atuou:
“Frank Frazetta estava entre a primeira grande geração de artistas americanos a crescer rodeado pela cultura popular dominada pelas pulp magazines (revistas de produção barata, qualidade menor – apesar de grandes escritores já terem produzido pulps – e muitas delas com histórias noir, fantasia e ficção). Tiras dominicais, desenhos animados e o mundo dos sonhos conjurados pelas fábricas de filmes de Hollywood.
O que faz Frank tão único é que ele foi um artista que combinou uma alta habilidade de desenho estilizado destilada dos quadrinhos e desenhos animados com uma técnica clássica de pintura a óleo junto com os grandes pintores franceses acadêmicos de história e mitologia do século 18. Frank é um cartunista que pode pintar com a habilidade de um Grande Mestre.
Por causa disso, ele se tornou um grande influência e uma luz no caminho para muitos dos artistas, comigo incluso, exibindo atualmente em galerias e museus ao redor do mundo sobre o movimento conhecido como Lowbrow ou Surrealismo Pop.”
No mesmo livro, Arnie Fenner promete responder a questões como “Como ele consegue criar tanta arte inesquecível?”, “De onde vem suas ideias?” e revela a fórmula secreta que faz o trabalho de Frazetta ser tão fantástico. Preparados? Anota aí que essa dica vale ouro:
“Bem, ele senta no sofá em seu estúdio. Se for de dia ele geralmente assiste a um jogo de Baseball na sua tv grande. Se for a noite, ele pode deixar um filme rolando ou uma música clássica de fundo. Frank então pega um lápis número 2 e afia ele muito bem com um canivete. Ele pega então um sketchbook barato e meio desgastado em seu colo, toma um gole de café e….. desenha.”
Segundo o próprio Frazetta: “Eu amo o lápis. É fácil de usar e os erros podem ser apagados. Tudo começa com um lápis. Se eu gosto do que está saindo, eu posso jogar umas cores para estabelecer onde as linhas básicas tem de estar. Eu tento não colocar tudo no sketch ou esboço: eu deixo algo para a pintura. Meu estudo original da primeira capa de Conan foi um pequeno thumbnail à lápis sem cor. Quando eu tenho uma ideia, posso me sentar na prancheta e trazê-lo à vida. Teve vezes que eu desenhei tudo na tela e em outras eu joguei tintas para ver o que emergeria dela. Todo desenho e toda pintura é um pouco diferente da outra, e isso que torna divertido.”
Pra finalizar, outro insight do Mestre: “As pessoas sempre perguntam qual é o meu segredo. Como eu poderia saber? Eu não posso explicar, eu não posso ensinar e isso parece frustrar elas. Não tem segredo: eu apenas faço!”
Se quiserem saber um pouco mais sobre este Mestre, além dos livros citados, assistam a este documentário ‘Frazetta: Painting with Fire’ de 2003. Obrigatório para os fãs.
Este texto foi baseado em sua biografia no IMDB e no livro Rough Work de Arnie e Cathy Fenner.
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